A cárie, a doença que provoca os “buracos” nos dentes, pode atingir qualquer dente de qualquer pessoa (não há pessoas imunes nem vacinas para a cárie) desde o nascimento dos dentes de leite (pelos 6 meses), continuando depois eventualmente a invadir outros dentes definitivos pela vida fora. Até os podemos perder todos. Se não tivermos cuidado com eles.
A cárie não tem origem hereditária e é essencialmente determinada pela frequência da ingestão de doces e bolachas. Para a cárie tem mais importância o número de vezes com que aqueles alimentos ou guloseimas entram em cada dia na boca, do que a sua quantidade. Mas, atenção, as guloseimas e bolachas contribuem para outras doenças muito mais graves que são a obesidade e a diabetes e nestes casos a quantidade é o mais importante. Aliás enquanto a obesidade se torna gradualmente visível a diabetes desenvolve-se de forma totalmente silenciosa até ao aparecimento dos seus gravíssimos sintomas: cegueira, perturbações de circulação nas pernas que podem originar amputações, insuficiência renal, enfartes do miocárdio, AVC, etc.).
Mas a prevenção da cárie é “fácil”:
1 – Reduzir o consumo de doces e bolachas, em particular fora das refeições;
2 – Escovagem dos dentes de manhã antes ou depois do pequeno-almoço, e à noite antes de deitar.
A prática da escovagem dos dentes deve começar muito cedo, após o aparecimento do 1º dente. Até aos 6 anos tem de ser sempre vigiada pelos pais ou educadores, a quantidade de pasta deve ter aproximadamente o tamanho de um grão de arroz até aos 3 anos e do tamanho de uma ervilha a partir dos 3 anos, no fim a criança deve cuspir o excesso de pasta que pode ficar na boca e, depois da escovagem não deve bochechar com água (adultos também não). Devem usar uma pasta igual à dos pais.
É muito importante que todas as crianças e jovens, desde o 1º ano de idade e até aos 16 ou 18 anos, tenham uma observação diagnóstica anual, que pode ser efectuada por um dentista ou um higienista, para verificar se estão a formar-se cáries e detectá-las muito precocemente. E, se existirem, serem tratadas de imediato (cheque dentista) quando o seu tratamento ainda é simples e é feito antes de aparecerem dores e abcessos.
As crianças não devem usar as chamadas pastas de dentes infantis. O seu nome é atractivo mas a concentração de fluoreto é insuficiente para o efeito preventivo. Por outro lado o gosto a morango (ou outro gosto) já tem levado a que algumas chupem a pasta do tubo, o que antes dos 6 anos pode originar manchas nos dentes.
As escovas nunca devem ser partilhadas com ninguém. Precisam de ser substituídas quando estão sujas ou os filamentos estão dobrados.
Tal como as escovas manuais as escovas eléctricas só têm vantagens se forem utilizadas de forma adequada. E neste caso podem poupar algum esforço.
Gengiva a sangrar é sinal de que nesse ponto estamos a escovar de forma insuficiente ou mal.
O aparecimento de uma cárie numa criança deve ser sinal de alarme para a família: em condições normais de boas práticas de prevenção como as que apresentámos, não aparece nenhuma cárie (já há hoje cerca de 50 a 60 % dos jovens que chegam aos 12 anos sem qualquer cárie).
César Mexia de Almeida
Professor Catedrático – Faculdade de Medicina Dentária da Universidade de Lisboa
01/04/2017